domingo, 18 de abril de 2010

13.10.08

O voo para Lisboa foi perfeito. Soul no Rádio, Indiana Jones na TV, me senti em casa. Nas poltronas atrás de mim, duas alemãs, as tinha visto no saguão de embarque em Recife. Pela janela, mar e céu eram um só, um breu, muitas estrelas, bem mais bonitas vistas dali. Sobrevoamos algumas ilhas africanas. A senhora ao meu lado era brasileira, mas nao conversamos muito, assim mesmo, em Lisboa, nos depedimos, nos desejamos sorte. O frio era suportavél, apesar de nao estar tão agasalhado quanto devia. Na imigracao, o fato de entrar como turista com intuito de fazer um estágio deixou a mulher no balcão desconfiada. Fiz cara de quem nao estava nem ai pra ela, misturada com uma simpatia brasileira e com a fé de que tudo ia dar certo e passei. Logo comprei um cartao telefônico e liguei pra familia. Andei, conheci o aeroporto com olhos de arquiteto-turista, reparei em alguns detalhes, tentei apreender a distribuicao dos espaços, observei alguns cadeirantes e umas vitrines, nada diferente dos Shoppings do Brasil. Estava sem fome, no aviao a comida só não era melhor e mais farta do que a que eu tenho na casa da minha mãe. Esperando para embarcar para Frankfurt, duas surpresas, o vôo estava atrasado sem previsão de partida e nos bancos de espera, uma das alemãs que estavam no vôo anterior: ela tambem ia para Frankfurt.


Sentei ao lado dela e ensaiei agumas formas de abordá-la. Fiquei nervoso. Percebi que meu alemao nao ia me levar muito longe. Esperei. Passei a observar as pessoas em volta que passavam sozinhas ou em bando, uns emos importados do japao, familias de todos os paises pareciam estar ali. Árabes, Japones, Brasileiros, Norte Americanos, enfim, uns corriam atrasados, outros simplesmente andavam, a mulher fez um gesto de impaciência e eu decidi que era melhor correr antes de perder a oportunidade:
- Oi, eu vi você em Recife vindo no vôo pra Lisboa, também vai para Frankfurt, sim?
- Sim, eu me lembro de voce também.
- Estou preocupado com minha bagagem, só pegamos lá, certo?
- Sim.
- Eu preciso ir de Frankfurt pra Stuttgart, preciso de um trem e tal, pode me dizer como faço isso?
- Sim, é simples. Tem uma estacão de trem no aeroporto. Kehjehs ehejghejgs sjsgsg...
- O que? Desculpe, nao entendi.
- Jehhsh hue voce heeghs trem shifeo shif
- ...
- Podemos tentar em inglês?
- Ah, bem melhor!

Ela me ajudou em tudo. Me disse onde pegar as bagagens, onde comprar a passagem, onde pegar o trem. Nos despedimos e ela me desejou sorte. Seu nome era Ulrika. Fiquei na estação, o trem estava atrasado e resolvi perguntar a alguem. Me lembrei do meu pai me aconselhando a perguntar sempre a algum policial, e assim o fiz. Ele disse que eu deveria ir para o outro lado, desconfiado fui em frente e encontrei um posto de informação, perguntei denovo e sim, eu estava no lugar certo. Capaz de eu ir parar em outra cidade com a informação do policial. Como eu estava sozinho, pedia a quem passasse para tirar fotos minhas, e todos faziam isso com maior simpatia. O trem chegou, coisa de primeiro mundo mesmo. Procurei uma cabine e entrei numa onde havia outras três pessoas. Tentei arrumar minhas duas malas e minha mochila ali. Afastei o casaco de um, a mala de outro, aquela agonia, outro homem pegou a mala dele e pôs em baixo do banco, o trem se balançando. Sentei-me e passei a observar a paisagem. Outono, como eu nunca havia visto antes. Aquelas florestas alaranjadas, outras árvores completamente sem folhas, campos bem planos e enormes, umas casas que lembravam arquitetura holandesa.
- Quanto tempo daqui para Stuttgart?
- Meia hora mais ou menos.
Desci em Stuttgart, uma confusão de gente para todos os lados, olhei para a direita, para a esquerda, tanto fazia, eu nao sabia onde ia dar nenhuma das opções. Fui para a direita. Fui vendo uns portões, parecia estar indo pro lado certo. Me perguntei como eu reconheceria a pessoa que ia me pegar, mas bem em frente aos portões estava uma garota com uma placa: IAESTE, o instituto de intercâmbio pelo qual eu estava ali. Ufa, estava a salvo finalmente.

Laura. 22 anos. Finlandesa. Ajudou-me em absolutamente tudo que eu precisava para me situar na cidade. Levou-me para comprar o cartão de passagens de metrô, me ensinou a ir e vir nas estações e me levou ao alojamento. Eu, já sabia, ia morar na Residência Universitária. A exceção da vontade de fazer bons contatos no escritório e sair daqui falando alemão, eu nao criei outras expectativas para essa viagem. Eu nao conseguia me impressionar ou me decepcionar, apenas absorvia as informacções os espaços sem grandes surpresas. Entramos na Universidade, ela me guiou por umas ruas, tudo era amplo aqui, passamos por uma biblioteca, e uns prédios onde supus, fossem as salas de aula. Decemos por uma rampa e já se via os prédios da residencia, uns pretos e uns bracos, que me lembraram um pouco Arquitetura Moderna, com tracos retos, muitas janelas de vidro e tudo muito limpo. Aqui, cada estudante possui um quarto, com uma cama a um canto, com um guarda-roupa ao lado e umas prateleiras em cima, como continuação deste, um armário com espelhos e uma pia, uma escrivaninha em “L” abaixo da janela e uma estante. Um bom quarto e bem novo. Resolvemos umas burocracias do intercâmbio e deixei minhas malas lá. A cozinha, estilo Americana, dava acesso também a uma sala de TV, havia fogão, microondas, e tudo que se precisasse para cozinhar, panelas, talheres, pratos, copos, tudo. Cada estudante possuia uma parte no armário, trancado a chave e com o número do seu quarto. Na geladeira e mesma coisa, vários compartimentos identificados com o número do quarto e fechados a chave. Todos podiam usar tudo, era só lavar depois e estava tudo bem. O banheiro, tb comunitário, possui dois boxes, e outros dois compartimentos cada qual com um sanitário e uma pia. Laura me levou para fazer compras, me mostrou como chegar no supermercado, indicou as melhores coisas para comprar sem gastar muito e depois ofereceu sua casa para que eu pudesse usar a internet. Muito simpática, me deixou a vontade no seu quarto.

Voltei para casa mais ou menos 21:45h. Sozinho. Nao havia problema, eu simplesmente me sentia seguro. Chegando em casa desfiz as malas, arrumei o quarto e desci para a cozinha para guardar as compras e comer algo. Lá conheço Joonas, 23, Finlades e Joris, 21, Belga. Apresentei-me, eles também, conversamos pouco, estavam de saída, eles me explicaram como funcionavam as coisas por ali e se foram. Na volta para o quarto, deitei na cama, de bucho cheio, cansado, mas satisfeito. Pronto. Estava finalmente na Alemanha. Agradeci a Deus por tudo. Lembrei-me dos meus pais e minhas irmãs, e do esforcco deles em me mandar pra cá. Lembrei de Renata, a irmã mais nova, a qual deixei no Brasil me dando a sensacao de que era a mais preocupada. Preocupou-se em vão minha irmã. Aqui tudo era novo, mas nada era estranho. Não era a primeira vez que isso me acontecia. Aos 14, deixei meus pais, a mordomia e o conforto de casa para ir à Campina Grande, sem muito dinheiro, novos amigos. Depois Joao Pessoa, mais uma vez deixando uns bons amigos por um tempo, faculdade, outro estilo vida, novos desafios. Agora Stuttgart, a mesma coisa. E o desafio está apenas comecando.

12.10.08, 18:45h

A sensacao era familiar. Vi as casas e as ruas se distanciarem e logo nuvens passaram pela janela. A primeira vez que estive em um aviao, saltei de pára-quedas, sozinho, eu e mundo abaixo de mim; até aquele momento nada tinha sido tao desafiador. Agora, decolando pela segunda vez na vida, eu vou para Sttutgart, Alemanha. Sozinho. Eu e um mundo de pessoas desconhecidas. Indo para o Velho Mundo, tudo era novo pra mim.

Considerações Iniciais

Bem, resolvi criar esse Blog inicialmente para guardar os escritos do diário de bordo feito durante minha viagem pela Europa, uma vez que pretendo finaliza-lo. Depois, se novas inspirações surgirem ou novas viagens aparecerem, posto as novidades.